quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Fita de Cabelo

 
 É madrugada de uma segunda-feira. A semana mal começou e meu inferno começou com ela.
 Eu queria ter aberto aquela porta e saído da sua vida. Saído das suas lembranças e suas expectativas frustradas. A grande verdade é que eu preciso deixar você sair de mim antes.
  Saudades as minhas do tempo em que eu tinha necessidade de colocar uma máscara de alegria e ia para a aula continuar a minha vida e rir com meus amigos. Esquecer de tudo o que me fazia mal. Mas cada fingimento, cada fraude, cada parte da minha armadura que me protegia foi caindo, uma a uma. Foi antes de você conhecer esse bobo sentimental que eu costumo ser hoje em dia.
  Deuses, como eu queria ter aberto aquela porta e você tivesse sumido. Eu teria ido embora, chorado e acordaria no outro dia talvez rindo da minha cara de choro. Mas não foi assim. Foi pior.
  Ontem eu fui arrumar minha mochila para a aula e encontrei a fita de cabelo preta que você deixou em casa. Eu juro que esqueci de devolver, é uma lembrança forte demais para estar comigo depois do que aconteceu.
   Depois da aula eu tirei a fita da mochila e ela tinha o seu cheiro. Eu ri me lembrando do cheiro do seu cabelo que ficava no meu rosto sempre que a gente dormia abraçado, e de como eu dormia e acordava com um beijo no seu pescoço. De como você era a primeira coisa que eu via no meu dia, e de como eu te beijava sempre que acordava. Foram tão poucas vezes em tão pouco tempo, mas me marcou de tal maneira...
   Hoje eu deitei minha cabeça no travesseiro e me perguntei se eu devia te avisar que sua fita estava comigo. Eu pensei em continuar com ela até que o cheiro acabasse, ou até que eu enjoasse dele e não quisesse ficar com ela. É tão improvável que eu a esqueça, que eu a deixe de lado, que eu não a pegue na mão por ao menos um momento do meu dia para passar os dedos e sentir seu cheiro, lembrar de como seus beijos me acalmavam e me levavam a um êxtase irreal, que por alguns segundos eu não lembrava de mais nada, e pelo resto do meu dia os meus problemas pareciam ter desaparecido. Você foi meu alívio, um alívio que eu não consegui em outras pessoas. Você foi a alegria do fim de um período difícil que eu tinha durante uma parte do meu dia. Você foi um filho de Dionísio.
   E eu devia saber e não devia desejar que eu pudesse prender Dionísio a mim, que talvez não seja culpa sua que hoje as suas declarações de amor a mim não possam mais ser válidas. Você foi uma onda de atordoamento que passou porque talvez estivesse mais que na hora de passar. E apesar de tudo o que você me disse, eu sei que não volta. E isso me dá raiva, me deixa frustrado, como um viciado em abstinência, como alguém que tivesse que voltar ao controle da própria vida, sozinho, de novo. Como alguém que caiu porque seu chão sumiu de repente.
   E minhas lembranças felizes são tão intensas, mas tão poucas, que no fim das contas só tenho raiva de você porque agora vou ter que parar de usar minhas lembranças boas contigo para me fazer bem, porque elas e fazem mal. Elas me dão saudade.
  "Preciso devolver sua fita de cabelo, tava na mochila, eu esqueci no dia. Ela ainda tá com seu cheiro."
  E tenho dito,
    Lipe.

2 comentários:

  1. Acredito que o amor nunca morra. Se você sente isso que diz sentir corra atrás. Use a fita de cabelo como desculpa. Ligue para a pessoa. Só pare de lutar contra algo que vai te fazer bem.

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