quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O outro lado da vitrina

  Como o tempo passa rápido.
  Faz mais de mês que saí de casa. Não sei mais como é que tão os irmãos, a mãe, o cara lá. Tanto faz, praquele lugar eu não volto de jeito nenhum.
  A gente já tá quase no Natal. Ninguém nunca me disse o que é o Natal mesmo, eu nunca soube o porquê de tanta festa. Uma vez me deram uma bíblia pra ler, mas eu nunca aprendi a ler.
  Eu acho que o Natal é pra ganhar presente. A cidade fica com as lojas cheias de brinquedo. Uma vez eu vi numa casa, da janela, umas duas crianças ganhando presente. O menino ganhou um carrinho, a menina ganhou um urso de pelúcia.
  Uma vez eu ganhei um presente, perto do Natal, de um moço muito bonzinho. Ele disse que Isabella significa "prometida de Deus". Eu sou uma prometida de Deus.
  Eu levo o ursinho pra onde eu vou. Ele é o meu melhor amigo, porque ele anda comigo e não me bate nem me machuca, e não vai me abandonar.
  Olha lá. Acabaram de abrir a vitrina da loja. Olha quanto brinquedo. Tem ursinho igual o meu amigo.
  Quer saber? Eu posso entrar na loja, pegar qualquer brinquedo que quiser e sair correndo. É só querer.
  Ah mas sei lá. Eu não quero isso pra mim. Eu queria uma escola, eu queria ser limpa, poder ter um trabalho. Mas nunca pude ter escola. Minha mãe me colocava pra trabalhar o dia todo em casa.
  Olha lá, entrou um moço na loja. Tá falando que quer comprar um boneco de super-herói pro filho dele. Eu queria ter um pai assim, que se importasse com o que o filho quer. Mas nem pai em casa eu tinha.
  Tô começando a ficar com mais fome. Acho que vou ter que esmolar de novo, conseguir algum dinheiro pra comprar algum pão, ou alguma coisa pra me esquentar...
  Como o tempo passa rápido.

 E tenho dito,
 Lipe.

P.S.: O texto é uma redação que eu fiz.

  Ao meu amigo, que não vai me machucar.
  Por incrível que pareça.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Carta de um contratado

Eu queria escrever-te uma carta
amor
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio de te perder
deste mais que bem querer que sinto
desde mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta
amor
uma carta de confidências íntimas
uma carta de lembranças de ti
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como macongue
dos teus seios duros como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta
amor
que recordasse nossos dias na capôpa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía nos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta
amor
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta
amor
uma carta que te levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que se o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levasse puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor...

Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero - não sei escrever também!
 (Antônio Jacinto (1924-1991), escritor angolano)

Maboque: fruto do tamanho e da cor da laranja e de casca dura
Pungente:  comovente, aguda
Tacula: árvore nativa da Angola, de madeira vermelha.

E tenho dito,
  Lipe.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Post Brisa

 Sempre temos prazeres na vida que não nos fazem refletir sobre o que somos e por que. Ou pra que.
 Temos mais que orgulho de nossas vidas se somos bem sucedidos, mas não sabemos o que fazer com todo o esforço que nos resta completar. Somos mais que simples peças de quebra-cabeças. Nós somos mais do que simples pessoas.
 Acho que o clima da Praia Grande me deixou meio brisado, mas me faz sentir bem. Fora da praia, porque dentro dela é puro petróleo. A minha sorte é que eu tenho um amigo em Santos.

P.S.: Temos mais do que destinos. Temos o dom da dúvida.
P.P.S.: Felipe significa aquele que gosta de cavalos.

                                                   À pucca.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Êta, Baixada

 Gente, to postando na maior rapidez pq a gente ja ta indo embora.
Como a isa me abandonô com as crianças aqui em casa, e minha mãe me convidou pra Long Beach, deixo vocês com uma foto de uma galere super legal, meus amigos, companheiros, irmãos de verdade.


À Demolay.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dor

  Acho que sei o porque de as pessoas que colocam um piercing, ou alargam a orelha, ou fazem uma tatuagem, viciam nisso. Deve ser um estímulo. Elas se furam. Sentem dor.
  Não acho que dor seja uma coisa que deva ser evitada. Muito pelo contrário, ela deve ser aceita como uma coisa normal. Nós aprendemos muito com ela, pois sabemos que se fizermos algo errado de novo, vai doer.      Podemos dizer que nos programamos a partir dessa reação natural. Mais do que uma coisa ruim, ou algo que faça nos sentir mal, a dor é, acima de tudo, humana.
  Eu já alarguei a orelha. As duas. Aí coloquei um piercing. No septo.
  As pessoas me perguntam o que me dá na cabeça para furar o nariz. Bom, eu não sei. Talvez a vontade de me destacar, ou mesmo um impulso inconsciente, para sentir dor. Como eu disse pra má, uma vez, a dor nos faz sentir vivos. Com a perfuração, o coração acelera, o sangue corre mais rápido, o corpo fica mais tenso, e depois vem o alívio. Os hormônios são liberados, nosso corpo fica calmo, e aí, com toda essa interação simultânea, sentindo nosso corpo trabalhando ao máximo, vemos que estamos vivos. Nosso coração ainda bate, nosso sangue ainda corre, nós ainda respiramos, nós ainda estamos vivos.
  Eu sei, é compulsivo, é estranho. Mas parem um pouco para pensar no que tem nos movendo e nos fazendo viver e aprender até agora. São as nossas dores. Elas são sempre importantes para nós, humanos. Nos fazem refletir, pensar e recomeçar da forma certa.
  São poucas as coisas que não nos fazem sentir dor. Um cheiro, um gosto, uma pessoa, poucas lembranças.
  Poucas coisas não me fazem sentir dor. Cheiro de incenso, gosto de chocolate, a isa, a lembrança da minha antiga escola. E de como eu era feliz.

E tenho dito,

Lipe.

P.S.: Nada de se cortar.




Sim, sou eu.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Infância

 Mais que só uma fase, é o que nos dá marcas importantes para levarmos por resto da vida. O sonho, a utopia, a esperança em coisas impossíveis. E que acontecem.
 É mais difícil de entender do que as coisas que são complexas, porque é simples. E os adultos costumam não entender muito bem o que é simples, de tanto resolverem os problemas impossíveis que precisam resolver. É assim que se vive, é assim que se passa a vida, até o resto dela.
 Mas não culpo a ninguém por isso. Os problemas só crescem, conforme vamos crescendo também. Mas é chato, não é o que importa. Fazer com que o máximo de nossos esforços valham um arroz, feijão e uma mistura. Não vejo muito interesse nisso. A vida não pode ser feita disso. Se for, se torna tão insignificante... Nascer, crescer, trabalhar, ficar velho e morrer. Tem que viver, viver e viver.
 Eu tenho tantas saudades da minha infância... acordava às 5 da manhã para assistir Barney, depois Bananas de Pijama, depois ia para a escola (pintar desenhos), aí ia para a casa acompanhado de minha mãe, e brincava o resto do dia. Não haviam problemas, não havia com o que se preocupar. Nada, nada.
 Por isso, a infância não é uma coisa que deve ser esquecida, por ser uma época de alegrias demais, besteiras demais, esperanças e sonhos e utopias e fantasias e contos e brincadeiras demais. É uma coisa que deve ser levada para a vida toda, por haver alegrias demais, e problema algum. É o que nos faz sentir vivos, mais do que tudo.
 E tenho dito,
 Lipe.

P.S.: Caso sintam um clima meio triste, não se preocupem. A isa vai me abandonar com as crianças e cair no mundo em Parati rs


À minha saudosa infância, por ora relembrada.



Para quem tem saudades dos Bananas de Pijama.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Aniversários

 NÃÃO, não é meu aniversário. Mas achei um assunto feliz, alegre, contente, 100% vida e resolvi falar sobre ele.
 Esse ano foi especial pra mim, nunca tive um aniversário como esse. Especialmente por comemorarem ele em uma semana toda. É, rapazeada, eles conseguiram.
 Fora o presente que eu ganhei quase um mês antes: um Gloomy azul. Da cris, que não aguentava ficar com ele em casa.
 Na verdade, todos os presentes foram especiais para mim, sejam eles quais fossem. Vindos de uma pessoa especial, é uma coisa que você vai olhar e lembrar de quem te deu. Não deixa de ser uma lembrança, seja lá qual for o presente.
 Eu acho assim, e faço assim. Fico feliz a cada momento que lembro do meu aniversário. Mesmo a calcinha que me deram.e um bichinho azul que eu usava de ioiô, batendo em todo mundo. E uma caixa de batata, que eu ganhei da gemezess (era uma dobradura com outras dobraduras dentro, e uma ficha de pump), e tenho no meu guarda-roupas até hoje. E em especial a primeira edição do D-Gray Man e um chibi do Allen que eu ganhei da Isa. E os scraps que eu recebi, e os depoimentos de pessoas especiais, como a pucca e o Henrique.
 Acabei de lembrar também da festinha de aniversário escondida fail que minha familia fez pra mim... Eu no quarto, mexendo no orkut, fui tomar uma agua e encontro a madrasta tentando acender a velinha, surpresa comigo e gritando FELIZ ANIVERSÁRIO toda enrolada rs... E do dia 13 de outubro (o dia oficial), que eu passei com a minha mãe, fazendo o melhor bolo de chocolate do mundo pra comemorar comigo no meu dia. E como sempre, quase que levo o bolo todo pra casa. No meu estômago.
 Enfim, desse ano eu não tive do que reclamar. Não foi um dia especial, foi UMA SEMANA INTEIRA especial, com amigos se lembrando (nem que fosse pelo orkut), falando comigo, me bombardeando de parabéns e etc... Gostaria que todos os anos fossem assim, sério.
 Não tenho o que falar de amigos, só que são as melhores pessoas que eu ja conheci. Pucca, Bunny, Henrique, Gemezess, Larissa, Má, Japa, Mi, Carol, Bianca, a Isa (que não chega a ser amiga, mas enfim), e toodos que tornaram a minha semana especial. Eu desejaria o que tive até para as pessoas ruins, porque isso sim transformaria a opinião de qualquer um. E não desejo que nada mude. Por mim, seria assim por anos e anos, sem tirar nem por.


E tenho dito,


Lipe.


P.S.: Todo dia é dia de alguém. Comemore sempre que puder.




 
Para os curiosos que querem ver minha reação com a calcinha rs

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Outros

 Tem coisas que só se pode fazer em dupla, né gente? Conversar, desabafar, namorar, fazer dueto no ragnarok (né kebis)... rs
 E pra tudo isso você sabe que pode fazer com as melhores pessoas do mundo, assim como pode fazer com as piores pessoas do mundo.
 Há várias culturas que abordam os casais de formas diferentes, mas com conceitos super iguais. Há quem diga que nascemos incompletos, e precisamos de outra pessoa para nos completar, um equilíbrio. Há quem diga que temos uma asa só, e juntos podemos voar bem alto. Uma vez eu li um trecho bem interessante, que dizia assim: "Os amigos são um pretexto para pegar um pouco da felicidade do outro". Achei incompleto. Não são só as felicidades que se pegam, mas também se compartilham as tristezas. E a magia de ter um outro com quem contar é nos fazer perceber o outro lado da moeda, um outro ponto de vista. E isso sim nos completa. É o que nos faz feliz.
 Cabe dizer aqui que não se servem só para nos fazer felizes, mas para nos fazer enxergar. Enxergar o que estamos fazendo, enxergar o que há ao nosso redor, enxergar os nossos erros, enxergar. E consertar, e melhorar, e não repetir o erro.
 Sou feliz por isso. Tenho muitos "outros" na minha vida. Cada um ocupando um lugar dentro de mim, me fazendo ver cada vez mais. Sou feliz por isso, é.
 Mas também cabe dizer que também somos "outros", fazemos parte disso, e devemos fazer nosso papel. Seja como amigo, seja como irmão, namorado ou o carinha que trombou com aquele cara desesperado no meio da sé.
 Agradeço por cada outro que tenho na minha vida. Eles me fazem melhorar, e ser uma melhor pessoa também.

E tenho dito,

Lipe.

P.S.: Veja quantos outros você tem em sua vida. E be happy.


à Gemezess, dentre tantos outros.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Primeiro Post :')

Meu blog vai ser diferente. Nada de garotos/marmanjos deprimidos por garotas que não podem ter. Nada desses sentimentalismozinhos comprados em quilo na feira da esquina. Nada de letras de músicas para escritores com falta de criatividade. E NADA DE CINE! \o
Não quero besteiras, não quero bobeiras, não quero o lixo que vem da margem da alma. Tem que ser mais profundo, ter um fundo de verdade. Não preciso de músicas pra me inspirar, embora elas ajudam bastante. O que move meus dedos nesse teclado é o meu espírito. Aquilo que tenho desde pequeno. Bem, não sou um garoto triste, não tenho quem quero longe de mim, e não tenho ipod pra me consolar. Mas tenho gravado em mim uma frase que hoje mesmo eu disse pra uma garota por quem prezo a maior felicidade que posso oferecer: "Todos precisam aprender".
E tenho dito, Lipe.
P.S.: Procurem o que mais importa a vocês. Todos têm um ponto de vista diferente.